quinta-feira

Devemos Andar


Devemos andar e notar os buracos das ruas,
E também os carros embriagados a exasperar-nos noturnamente,
Não só escutá-los.
Devemos andar e olhar no olho do passante
Como a querer desafiá-lo em seu segredo.
E se por acaso em uma destas vielas em que nunca passas
por medo,
Encontrares o portão aberto
Entres e preocupasse com o outro.
Devemos andar, parar, sentar no meio-fio,
No fim do quarteirão
E observar, se o céu nos contempla estrelado,
E se não tem estrelas,
Tente ser vândalo uma vez
Quebrando a lâmpada do poste em frente.
A escuridão às vezes é necessária.
Perceba, se não é um de nós,
Que tomou o suco da caixinha
Que repousa no centro do asfalto
E que quando escutas “enchente”
A culpa não é sua
E quando escutas: “mortes”
A culpa é do estado.
Devemos andar, em procissão
E ver se a lotes sem casas no meio de sua cidade,
E se todos na sua cidade têm casas.
Devemos tirar a impressão dos olhos
E lavá-los para nos recriar.
Devemos voltar a ter lindas rosas e quintais.
A ter pomar de fundo,
A subir em árvores
A masturbar sem pudor com os colegas de infância
A voltar a construir sonhos
A derrubar ambições
E a ver estrelas sem atos vândalos.
Precisamos andar, antes que mais um poema acabe!